terça-feira, 24 de novembro de 2009

05 - ESTA LIRA DE MIM!... * Era o tempo parado


E tanto por dizer ficou estrangulado
nas malhas do silêncio azul e da clausura!
Do risco de falar ao de ficar calado,
medrava em cada olhar o esgar duma censura.

                       Era o Tempo parado
dos altares pagãos,
onde foi imolado,
por atávicas mãos,
o devir revelado.

Difusa, em cada esquina, a sombra desenhava,
na mancha que sangrava as pedras da calçada,
o desvario que, insone e plúmbeo, procurava
a brisa que trazia a nova perfumada.

Era o tempo parado
dos desígnios fatais
dum fantasma danado
a negar os sinais
do devir revelado.

Ah, meu amigo, e tu nos longes por haver,
ainda do silêncio infausto tão distante,
vivias, no mistério, a sedução de ser
um astro mais do céu, a lucilar, errante.

Era o tempo parado
da vergonha de nós,
no estertor resignado
e no medo sem voz
a render-se calado.

Chegaste, agora, são e salvo, e o tempo é teu!
Bem-vindo sejas! Vem, no tempo que em ti cresce,
ser mais um cravo-Abril, que o dia amanheceu!
E deixa-te orvalhar de auroras e floresce!


José-Augusto de Carvalho
19/5/2009
Viana*Évora*Portugal


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