sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

02 - POSIÇÃO - Em tempo de ponderação - 2


Reiterando o meu texto anterior subordinado ao mesmo título (Em tempo de ponderação), convirá acrescentar:

1- Abandonei o  título «O Alentejo não tem sombra...», porque soube, entretanto, já haver um livro com este título. Foi substituído por «Harpejos», mantendo o subtítulo «Cantares». Considero adequados o título e o subtítulo porque o livro é constituído por vinte e cinco poemas, todos intitulados Cantares («Cantar 1», cantar 2», etc). Apenas o poema inicial, que se apresenta como pórtico, tem o título «Paisagem».

2- Em Outubro passado, publiquei «Pátria Transtagana», uma homenagem à região que me viu nascer e às suas/minhas gentes.

3- Além da anunciada colectânea «Esta lira de mim!...», outras tenho preparadas e em preparação.  Não sei, neste momento, quando serão publicadas, porque os editores não arriscam sem a garantia de comercialização assegurada e eu não tenho possibilidade de suportar o dispêndio da edição.

Por agora, é tudo quanto me apraz dizer a quem me lê. 

Evidentemente que continua disponível o espaço onde arquivo as colectâneas projectadas. Aqui fica o endereço: http://meustemposdoverbo.blogspot.com.


Até sempre!
José-Augusto de Carvalho
26 de Dezembro de 2014.
Viana*Évora*Portugal


domingo, 21 de dezembro de 2014

34 - CLAVE DE SUL * Falar simples







Não escrevas estranhas palavras 

que eu não sei decifrar.

Fala simples no simples falar

com que falas às terras que lavras.



Vem falar-me das dores dos partos

das ovelhas ao frio paridas

e das sôfregas arremetidas

dos seus anhos aos úberes fartos.



Vem falar-me da ordenha

e do leite coalhado…

Quem desdenha

umas sopas de almece abafado?



Deixa as altas montanhas

e os sermões dos antigos

vai buscá-los nas fundas entranhas

onde ocultos germinam os trigos...



Onde oculta germina a promessa

do cativo devir prometido...

onde tudo começa:

a certeza do pão repartido.



José-Augusto de Carvalho
21 de Dezembro de 2014.
Viana * Évora * Portugal


sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

14 - ESCAPARATE * Pátria Transtagana






No dia 11 de dezembro recebemos, na Biblioteca Escolar, o poeta José-Augusto de Carvalho para apresentação do seu livro "Pátria Transtagana".

Este evento integrou-se na Feira do Livro e na comemoração da Semana dos Direitos Humanos e contou com a presença do autor do prefácio, Coronel Andrade da Silva, e da autora do posfácio, Professora Maria do Céu Pires, docente na nossa escola.


Pelos laços de admiração e estima que a ligam ao poeta, esteve connosco a Profª Bibliotecária Rosa Barros, do Agrupamento de Escolas de Viana do Alentejo.


A todos agradecemos a presença e o privilégio de nos terem proporcionado momentos de grande significado. A José-Augusto Carvalho deixamos os nossos sinceros parabéns pela sua obra.


Bem hajam!

Cláudia Marçal, Professora Bibliotecária

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

05 - ESTA LIRA DE MIM!... * Angústia







Morre-me o coração

nos versos da canção

de ninar-me



Versos no coração

a sangrar a canção

e a matar-me



Ah, versos impossíveis

tão apenas audíveis

na saudade

deste tempo que invento a desoras

onde sei que tu moras

de verdade





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 18 de Dezembro de 2014

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

29 - CRÓNICAS * O encargo de escrever


Escrever é comunicar.

Quem escreve tem ou supõe ter algo a dizer ao outro.

Quem lê determinará se o que leu foi útil ou uma perda de tempo, do seu tempo de cidadão e leitor.

Escrever é trabalhoso, é mal pago, pode ser um prejuízo material.

Vejamos:

É trabalhoso porque escrever exige horas de estudo e de ponderação, exige consultas e recolha de dados e despesas daí decorrentes;

É mal pago materialmente porque sempre se considerou de somenos o trabalho intelectual; e é mal pago ainda quando não há o reconhecimento por parte das entidades públicas e privadas que da Cultura se reclamam;

Pode ser um prejuízo material quando quem escreve tem de pagar as edições para o seu trabalho chegar ao leitor.

*

Além de quanto antecede, há ainda a situação de quem escreve evitar a edição dita de autor, daí preferir a chancela de uma editora. E esta preferência decorre de ser comum entender-se que a edição de autor determinará menor qualidade do texto editado, pois texto de qualidade terá sempre editora disposta a editar.

Esta verdade feita tem feito o seu caminho na nossa sociedade. Infelizmente.

E aqui levanta-se outra dificuldade para o autor se não for autor consagrado, logo dando garantia comercial ao editor. E a dificuldade é a de ter de pagar a edição e receber uns quantos exemplares do seu livro, os quais, se conseguir comercializá-los, lhe permitirá recuperar o dispêndio. Os restantes exemplares ficarão propriedade da editora, que os comercializará, deles pagando por direitos de autor 10% (ou pouco mais) do preço de capa.

Ponderada esta situação relatada, pergunta-se por que motivo o Estado (do Ministério da Cultura às Juntas de Freguesia) não procura soluções para analisar as obras que lhe sejam submetidas por muitos autores que temos e a esse critério adiram e depois publica as que forem consideradas merecedoras do dispêndio do erário público?

Seria a promoção da palavra escrita e um serviço público à Cultura. E mesmo que seja de atender ao binómio custo-benefício, retorno haverá, certamente.

Evidentemente que para além da palavra escrita, outras actividades na área da Cultura deverão merecer a mesma ponderada atenção.

Aqui fica, para que conste.


Até sempre!

Gabriel de Fochem
Alentejo, 15 de Dezembro de  2014.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

05 - ESTA IRA DE MIM * Na ansiedade da espera




De fim em fim, eu sempre recomeço…

Que Tempo vário em tempos repartido!

Viagens de aflição… e sempre, no regresso,

o sonho por haver no sonho prometido!...



A Vida, em seu viver, me quer e me consome,

querendo sempre mais e mais de mim!

Bendita sejas tu na tua fome

de aromas de poejo e de alecrim!



Em ti, eu soube do sabor a sal

e deste céu em chamas, ao sol-posto,

quando o descanso enfim me retempera.



Que venham amanhãs de sol e mosto

no vinho novo --- anseio desta espera ---

e eu possa ainda desfrutar-lhe o gosto…





José-Augusto de Carvalho
30 de Outubro de 2014.
Viana*Évora*Portugal
(Recuperando textos antigos)

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

10.01 - OS MEUS AMIGOS * José Augusto Carvalho


LIÇÕES INADEQUADAS


José Augusto Carvalho



O nome cesariana, que designa a operação de parto, não tem absolutamente nada a ver com Júlio César. O nome próprio César, aliás, que deu origem ao nome genérico dos imperadores alemães e russos (kaiser e czar ou tzar, respectivamente) é de origem etrusca, e não latina. São informações de Ernout e Meillet, no seu Dictionnaire étymologique de la langue latine (Paris: Klincksieck, 1967, s.v. Caesar). O nome cesariana relaciona-se com o verbo caedo, -is, cecidi, caesum, caedere, que deu origem ao fr. ciseaux (tesoura), ao ing. scissors (tesoura), à raiz –cida (de homicida, suicida, formicida, etc.) e a nomes como cisão, circuncisão, incisão, rescisão, precisão (corte prévio, isto é, eliminação do supérfluo), etc.

O Dicionário etimológico da língua portuguesa, de Antenor Nascentes, confirma: antes de Júlio César, muita gente já havia nascido por meio de cesariana, inclusive Cipião, o Africano, que viveu antes de César, quando essa operação já se chamava assim.

É comum a crença fácil na etimologia popular, que não explica nada, mas alimenta a imaginação do leigo curioso. O nome forró, por exemplo, não tem nada a ver com o inglês for all, apesar do filme com esse nome e da tradição generalizada. Forró é apenas a abreviatura de forrobodó, que for all não explica. Basta consultar o Aurélio para atestar o que digo. O Dicionário do folclore brasileiro, de Câmara Cascudo, esclarece isso, e elimina, indiretamente, essa bobagem inventada e divulgada por quem não tem conhecimento, mas tem muita imaginação.

Aliás, é extensa a lista de falsas etimologias: sincero não tem nada a ver com “sem cera” (o sin-, de sincero, tem relação com o sim- de simples; e o –cero tem relação com –cel-, de excelso ou com o –cer- de prócero); pontífice nada tem a ver com construtor de pontes (o pontifex latino sempre designou o sacerdote romano, sem relação com o verbo facere, fazer, e ainda menos com pons, ponte); religião nada tem a ver com o verbo ligar, mas com ler. A raiz da palavra religião se relaciona com o –lig- de diligente ou inteligente ou com –leg-, lec-, -lei, le- de eleger, lecionar, eleitor e ler, respectivamente. O re- inicial de religião é prefixo oriundo de red(i), vir, voltar, que aparece em redivivo ou relíquia. Uma consulta ao Dictionnaire étymologique de la langue latine, de Ernout & Meillet atestará essas informações.

Circulam na Internet versões “corrigidas” de expressões populares e até da trova popular – “Batatinha quando nasce/ se esparrama pelo chão. / Menininha quando dorme / põe a mão no coração.” O segundo verso foi corrigido: “batatinha quando nasce espalha a rama pelo chão” (o correto mesmo é “se esparrama pelo chão”). “Cuspido e escarrado” virou “esculpido e encarnado” (lição difundida por Duarte Nunes de Lião, no séc. XVI; o correto é realmente “cuspido e escarrado”; a expressão veio do francês, em que o verbo “cracher”, escarrar, também significa identidade, donde a palavra “crachat”, escarro, que deu origem ao português “crachá”, designando a plaquinha de identificação que as pessoas trazem no peito; em inglês, “spit”, cuspo, também é usado como identificação). “Cor de burro quando foge” virou “corre de burro quando foge” (forma que Castro Lopes sugeriu para corrigir a expressão adequada “cor de burro quando foge”, em que “burro” designa a cor vermelha que um fujão apresenta, e não o animal; de “burro”, cor, temos palavras como “borro”, designativa do carneiro entre um e dois anos, e “borracho”, que designa o pombo sem penas, por sua coloração avermelhada, e possivelmente “borrega”, ovelha de um ano). “Quem tem boca vai a Roma” virou “quem tem boca vaia – verbo vaiar --Roma” (o correto é exatamente “quem tem boca vai – verbo ir – a Roma”, frase originada das peregrinações a Roma, donde palavras como “romaria” e “romeiro”, associadas à peregrinação). “Ter bicho carpinteiro” virou “ ter bicho no corpo inteiro” (o correto é “ter bicho-carpinteiro”, referência, segundo Leite de Vasconcelos, ao oxiúro que provoca pruridos anais e movimentos sacudidos). “Quem não tem cão caça com gato” virou “quem não tem cão caça como gato”, isto é, “sozinho” (o correto é mesmo “quem não tem cão caça com gato”, isto é, quem não tem um instrumento adequado tenta um substituto, pois a necessidade é a mãe da invenção). Essas versões que pretendem corrigir as expressões populares são anticientíficas, sem respaldo documental, sem explicação de como ocorreram as alterações fônicas, e devem ser desprezadas. As versões que circulam na Internet não devem ser levadas a sério.

Castro Lopes, em suas Origens de anexins, prolóquios, locuções populares, siglas, etc. (Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1909), explica-nos a contento muitas coisas interessantes, como, por exemplo, o fato de que IHS não representa a abreviatura de Iesus Hominum Salvator (Jesus Salvador dos homens), nem a sigla de “Jesuíta, homem sábio (ou santo)”, mas apenas a abreviatura em grego do nome de Jesus (iota, eta e sigma) (p. 63-6). Mas, em seus Neologismos indispensáveis (Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1909), propõe bobagens, como, por exemplo, para substituir o fr. avalanche, o termo runimol, acrônimo formado das iniciais das palavras ruere (ruir), nix (neve) e moles (massa), isto é, “massa de neve que rui” (p. 27-9).

Em matéria de etimologia, Castro Lopes também cometeu deslizes graves, como o de tentar derivar carnaval de lupercália ou de canto arval. Mais recentemente, Silveira Bueno (Tratado de semântica brasileira. 4.ed. São Paulo: Saraiva,1965, p. 115) tentou derivar gringo de uma canção americana começada com a expressão “green grow”, que a cavalaria americana cantava no séc. XIX, na época da guerra contra o México, embora o termo gringo já constasse de um dicionário de Esteban de Terreros y Pando, publicado na Espanha, um século antes da canção americana e da guerra contra o México, segundo informação do Corominas (Diccionario critico etimologico de la lengua castellana. Madrid: Gredos, 1976,s.v.).

Em matéria de imaginação, Gilles Ménage (1613-1692) ganharia o óscar: em seu Dictionnaire étymologique, de 1694, formado a partir do desenvolvimento de sua obra de 1650, Origines de la langue française, ele “deriva” haricot (feijão) de faba; laquais (lacaio), de verna; e quille (bola) de squilla (sino), por exemplo. É verdade que Ménage tem virtudes, e muitas de suas etimologias são verdadeiras, mas a sua imaginação para estabelecer a pretensa cadeia evolutiva entre o étimo e a forma atual (esta tão distante fonologicamente daquele) leva o consulente bem intencionado a descrer da obra toda. Teria sido melhor, talvez, que ele tivesse ficado apenas com seus versos galantes e mundanos, mas, certamente, não teria hoje o seu nome lembrado. Ganhou com suas bobagens mais que os quinze minutos de fama que o artista “pop” Andy Warhol preconizou para os mortais comuns. O que equivale a dizer que a tolice disfarçada em sabedoria rende mais que a erudição e a cautela de um cientista. Sabe-se que foi Eróstrato que, em 356 antes de Cristo, incendiou e destruiu o Templo de Diana (ou de Artêmis) em Éfeso, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Mas até hoje não se sabe o nome do arquiteto que projetou esse templo.

Em outras palavras, a mediocridade vale mais que tudo: angaria fãs e aplausos e torna o sucesso bem maior que os meros quinze minutos de glória que Warhol pretendeu que todo mundo poderia ter...

-/-/-/-

(Cidade de Vitória, Estado de Espírito Santo, Brasil)

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

10.04 - OS MEUS AMIGOS * João de Sousa Teixeira




O SOL E O SUL



Longe o sol e o sul, ambos bastardos!

Onde a seara loira, que é do pão?

Que não vejo senão veredas de cardos;

ao sul somente o sol da solidão.



A mentira é causa híbrida sem saída

deitada à terra, que se atira à cara,

seca de semente e fruto, inconcebida,

onde o sol e o sul brilhavam na seara.



Terra onde as papoilas detêm sonhos

e o sol ao sul brilhando ainda nos meus olhos.




João de Sousa Teixeira






10.04 - OS MEUS AMIGOS * João de Sousa Teixeira



João de Sousa Teixeira



SONETO A SUL 



Espreita-me o sul de qualquer lado;

nem tanto o norte, meu vizinho.

Terão os cardeais de mim suspeitado

que andando faço caminho?



Como o caminhante de Machado,

preso a norte, de raiz, de terra e luz,

é o sul que me traz acorrentado,

que com apenas vê-lo me seduz.



Errante como o vento enquanto dura,

de Ítaca não esperando mais que sê-lo

para a ter por sítio e sepultura



ou então trincheira, muralha, castelo

de guerreiro encarcerado n’armadura,

cuidando o seu destino ao setestrelo.


05 - ESTA LIRA DE MIM * Desconforto




É sempre o mesmo desconforto!

A chuva, o vento, a tempestade…

Fechada a barra,

vazio o porto,

há um vazio na cidade,

um vazio que nos amarra

como os barcos parados,

ao largo fundeados.



Galopes de fúria das águas

que salgam as mágoas

dos olhos molhados.

Gaivotas em terra, transidas

de frio nos molhes do porto.

Asas recolhidas,

corpos fustigados

p’los látegos do desconforto.



E os barcos parados,

ao largo fundeados,

descendo, subindo

ao sabor das vagas

que investem rugindo…

E a chuva caindo!

E o vento ululante de pragas

agredindo o porto…

E a barra fechada

e a cidade ouvindo,

ouvindo calada,

sofrendo calada

tanto desconforto.



E os barcos parados,

ao largo fundeados…

E a barra fechada

negando a largada.



*

José-Augusto de Carvalho
16 de Novembro de 2014.
Viana*Évora*Portugal

domingo, 16 de novembro de 2014

10.05 - OS MEUS AMIGOS * Silas Corrêa Leite


Forfé de Pião Rueiro




A madeira na mão um toco de imbuia cheirosa
Pedindo pro Jora da Marcenaria Estrela tornear
O pião pra jogar com a gurizada na rua descalça
Que a fieira tinha tirado de uma cortina de casa

O Seu Jora só perdeu um instantinho-prosa daí
Surgiu o pião rombudo qual coxinha de frango
Marrom lixado e um prego sem cabeça na ponta
Pro bicho correr doido como a bailar fox-trot

O pião na mão e o movimento no colo da idéia
Rua cheia de piás guris moleques curumins até
O sol de Itararé rachando revólver de mamona
Gibis do Flecha Ligeira na mão e tarde ardendo

Então a fila pra assistir a inauguração do pião
O coração tamborilando rabo de olho na mira
Enrolei a fieira na bundinha do pião maroteiro
E fiz panca de Burt Lancaster depois da maleita

Soltei o pião lazarento (que apelidei de Garrincha)
E ele foi de bubuia e fez reviravolteio na Rua Capilé
Foi um deus-nos-acuda dos guris serelepes torcendo
Pro meu pião querido ir de vareio no rio da bosta

Mas o caipora lazarento fez fricote zumbiu e parou
Na minha mão direita como uma roseira de brincar

Eu era criança e Itararé tinha uma barulhança pueril
Cresci virei peão de pegar no batente e fazer poemas



Silas Correa Leite

10.05 - OS MEUS AMIGOS * Silas Corrêa Leite

OLHARES



“...Eu ando com medo/De que um dia/Ainda ache a tristeza normal” 
Recado, Renato Teixeira)


-Você já reparou no olhar de uma criança que está fazendo tratamento contra o câncer?
É a maior dor do mundo; que um ser humano sensível não pode suportar...
A criança está ali, mas o olhar dela não está mais... sabe que vai morrer... faz tratamento...
O olhar está despido da alma. Santo Deus!
Ela tira a alma para ir ao médico, ao hospital, ao laboratório...
E você a olha e ela sabe que você está olhando a incompletude de um ponto de interrogação nela...

Moro perto de um hospital que recebe crianças da América do Sul toda
Para tratamento contra o câncer...
Cabeça raspada; inchadas, pálidas, são anjos mambembes...
E você poeta com um cravo enferrujado no peito, um arame na alma
Olha para a criança; repara nos olhos dela e sofre a dor dela
Colocando-se no lugar do outro você sofre... e pede a Deus por ela... às vezes até duvida de Deus
Uma criança tão bonita, tão pura, inocente, morrendo de câncer...

Você procura os olhos de Deus naquele olhar... naquela situação... naquela morte anunciada... naquela alma-criança
E não obtém resposta. Todo silêncio é dor. Pior dor do que a de sua própria morte...
E a criança brinca com o galho da árvore roçando a janela do ônibus
Quando uma luz de fora brinca com a dor da mãe daquela criança
Que é uma mãe morrendo também...
Que é uma dor-mãe. Você sabe o que é isso?

A criança muda de foco, procura pistas, significados, brinquedos fantasmas
Mas o olhar está parado na dor; um silêncio parado no ar...
Você sabe o que é tirar a alma de uma criança e ela ainda estar Lá, o que quer que Lá seja?
O olhar – uma viagem muito além da angústia, do desespero...
É um olhar de paz resignada; de entrega...
O coquetel... a quimioterapia... -Mãe, Deus existe?
Como você responderá a  uma criança nessa hora? Deus? Que Deus?
-Sim, filho, sim criança, sim amor do mundo... Dorme, dorme que a mãe canta uma cantiga de ninar para a dor de ser mãe dessa criança...

A morte foi decretada no DNA. A criança está ali. Brinca com fantasmas.
Olha pra você. Você é menos do que ela, você é nada... a vida é nada...
Mas você olha para os olhos daquele ser, espírito, carne, lágrima e dor...
Qual o sentido da vida? (Não há vitória na morte, está escrito)...
A noite escolheu uma criança para habitar...
A morte vai chegar para você, quando você for velho...
Mas já está naquela criança...
A morte é o trenzinho dela, os soldadinhos de chumbo dela, a boneca de pano dela... a arapuca dela...
A morte; com ela brinca de pular carniça... um dia brincará de esconde-esconde...
No jogo de amarelinha da vida-cão, a morte nos olhos da criança, é a triste pior coisa de se ver
Mas você perde a hora de descer no ponto, perde a honra de existir, e fica olhando o veiculo sumindo na curva do cimento armado do além-dará
E o coração pisado, vai para a escola, e uma criança no percurso pergunta: Professor, por que você está chorando?
E você olha o aluno pobrinho, e responde: Não foi nada não menino, foi só um passarinho que pousou no meu olhar de poeta bobo
E segue seu caminho, órfão de uma criança que vai morrer de câncer
E chegando à escola enche a lousa, lastra-se, lavra-se, canteiro e dor, giz e peito entrevado, tristeza e fúria aplacados...
Mas porque sabe que a esperança é a inteligência da vida
Acredita que quando o mundo acabar; quando a morte matar a morte
E você estiver frente a frente com Jesuscristinho, você ainda há de querer saber; mas olhará nos olhos Dele e talvez ainda assim verá em luz
Nos olhos do filho do criador a tua dor revestida daquele amor de mãe
E ainda estará lá
a lágrima de uma criança que morreu de câncer...

../..

(Silas Correa Leite)
Da Série, Perdoem, Que eu Só Escrevo o Que Vi e Que Sinto
www.artistasdeitarare.blogspot.com/
E-mail: poesilas@terra.com.br

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

10.04 - OS MEUS AMIGOS * João de Sousa Teixeira

Com o maior prazer, divulgo o livro mais recente de João de Sousa Teixeira, Amigo de há longos anos e poeta e prosador que muito admiro. 
Aqui fica uma sugestão de leitura de qualidade. 
Abaixo da imagem, incluo um poema deste livro, poema que servirá de aperitivo aos leitores deste blogue.
Saudações cordiais.
José-Augusto de Carvalho
14 de Novembro de 2014.
Viana*Évora*Portugal



AS PAPOILAS

A noiva não mostra um arrumado bouquet
de espampanantes papoilas, mas de rosas.
Ainda que estas sejam só para quem vê
e a brava flor a chama íntima das fogosas.

Mas se mentir quiser a noiva prazenteira
pode, sobre o ventre inchado, qual balão,
decorar-se de casto ramo de oliveira
mas papoilas é que não, papoilas é que não!

Quando muito, estrelícias, verde rama ou goivos,
gerbérias, buganvílias, espigas férteis, loiras,
que dão realce às flores e dão aos noivos,
mas nunca a cor e a lascívia das papoilas.

Sou seu devoto, além do trigo nas searas,
quando rompem vermelhas ao sabor do vento,
cravos da mesma cor e outras menos raras,
mas isso é com outro fim; de outro casamento...


35 - CANTO REVELADO * Assim seja!





Que o tempo de hoje se situe e seja o desafio!

Que a folha desprendida ensaie o rodopio!



Que as dores das origens

se evadam nas manhãs

e sangrem as vertigens

nos outonais delíquios das romãs!



Que após o longo tempo em gestação,

das húmidas entranhas brotem lanças!

Lanças subindo, raio acima, a tentação

da luz que vem do céu no olhar duma criança.



Que venha, num sinal tão manso de evangelho,

anunciar o pão,

o pão da fome, o pão do menino e do velho

que, ali no largo, jogam ao pião!





José-Augusto de Carvalho
13 de Novembro de 2014.
Viana*Évora*Portugal




quarta-feira, 12 de novembro de 2014

10.05 - OS MEUS AMIGOS * Silas Corrêa Leite

O poeta Silas Corrêa Leite


Solução Final


Para Anne Frank

Parece que só faz um minuto
Que o último trem partiu para Auschwits
E já estão preparando outros fornos, outros gases, outros trens,
outros genocídios, outros refugiados, outros inocentes escolhidos para a viagem...

Os supermercados caros serão tomados – bem-aventurados
Pelos cinturões de miséria
Os condomínios ricos serão cercados – bem-aventurados
Por pobres morrendo de fome
Os tribunais decrépitos serão julgados – bem-aventurados
Por condenados inocentes
Os policiais serão predados – bem-aventurados
Pela justiça das ruas...

Quem serão os próximos? Os latinos? Os noias?
Os negros de novo?
Os índios de novo?
As mulheres de novo?
Ou procurarão ciganos, maçons, asiáticos, islâmicos, black blocs
E os colocarão nos trilhos para a solução final?

Tudo novamente de tudo
A história repetindo o erro.

A África mãe ainda estará lá
Quando os brancos forem extintos
Para começarem tudo de novo
Um novo céu, uma nova terra?
....................................................

Ciber poeta silas correa leite
e-mail: poesilas@terra.com.br
www.portas-lapsos.zip.net

10.05 - OS MEUS AMIGOS * Silas Corrêa Leite

O poeta Silas Corrêa Leite



Poema 

“Infância, Canto e Dor”

Para Fatoumata Diawara (Cantora Malinesa)


Escrevo porque tenho a necessidade de cantar.
Entre os beduínos, o homem que conduz os camelos, quando está só no deserto,


Ele canta. Eu estou lá.
Eu estou só e canto sobre a vida, sobre mim.
Outros vão escutar e, talvez, cantar também...

(Poeta Árabe Khalid Al-Maaly)


Começaste a cantar nas ruas, para recolher migalhas
Para colocar comida em casa – Eras uma criança
Cantavas em casamentos, batizados, becos de sombras, pontas de ruas, e dizias:
-Gente, eu Canto porque tenho fome...
Perdoem se meu canto é rude e primário e amargo e triste.
Se minha dor entrar em transe, e meu canto for melancólico, perdoem
Minha mãe meus irmãos precisam comer...
(Eu poderia morrer – sobraria mais comida pra todos eles
Mas, quem os sustentaria com o canto triste, feito um pardal rueiro?)
Ainda muito criança de tudo, cantaste nas ruas
Nas praças; a voz de inicio fraca como uma taquara rachada
Mas a dor engrossa a voz, afina a alma, tange a tristice. E os sentimentos rompem como um canto da Terra de Guilgamesh
Olhem meus olhos. São tristes. Olhem minha cara. Tenho cara de pobre? Pois eu sou pobre.
Minha infância, meu canto, minha voz soando nos corações, o que diz?
Meus olhos às vezes ficam marejados quando eu canto.
(As pessoas não compreendem a dor que eu sinto.
Sou eu essa voz, essa dor, esse canto.)
Uma criança canta para a família não morrer de fome.
Não tenho dinheiro nem para alugar um simples tambor barato que me acompanhe feito um coração serelepe.
Não tenho forças nem para bater palmas com o meu cantar
Não tenho muita força nem para me manter em pé, me sustentar. Sou uma criança...
Mas é o meu canto que me segura; minha voz sustenta meu corpo fraco
Sou todo eu, essa voz que vocês ouvem
(Mas alguns me olham detravessado
Alguns se repugnam, como se eu fosse uma criança leprosa
Alguns têm medo da minha tristeza e da minha miséria
Mas eu sou só uma criança pobre de rua que canta)
Perdoem meu canto, minha dor de existir; preciso levar algumas moedas para casa
Para podemos louvar a Deus antes do prato de sopa de pedras
Perdoem se minhas lágrimas estão nos meus cantos, nas minhas vestes simples, nas minhas palavras...
Não posso nem dançar uma dança tribal; eu morreria de cansado, eu não teria força para sobreviver cantando e dançando
Então eu danço com a voz; perdoem o tambor do meu coração sofrido
Perdoem se eu sou uma criança com fome que canta
Levem meu Canto para onde forem. Suas casas, palácios, igrejas e clubes.
E cantem vossos cantos por mim também, em meu nome, em nome daqueles que vocês adornam no presépio elétrico...
Todos os dias as pessoas se afastam da religião e vão em busca de um Deus verdadeiro
Mas eu tenho fome, e tenho sede – e preciso das migalhas que caem das mesas de vocês...
Se vocês puderem me ajudar; seu não tiver atrapalhando o comércio e o lucro de vocês (e os deuses de vocês - e as guerras de vocês)
Sei que às vezes para os sábios, a fé remove religião, mas a única religião deveria ser o amor...
Mas, o que uma criança pode entender, se não só cantar a sua angústia, a sua opressão, a sua dor; a dor que lhe deram
E precisa se sustentar nessa dor para sobreviver
E levar alguns tostões para casa. E dizer à mãe abandonada; e dizer aos irmãos humildes e esperançosos: -Eis o meu suor, eis a minha dor, eis o meu sangue...
Comei e bebei de mim, de minha dor, de meu amor, de minha fé.
E todos se alimentarão do meu canto em sangue. E do meu amor lavrado de cantagonias...


-0-

Silas Correa Leite – Santa Itararé das Artes, Cidade Poema
Autor de GOTO, A LENDA DO BARQUEIRO NOTURNO DO RIO ITARARÉ
E-mail: poesilas@terra.com.br
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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

36 - TEMPO DE SORTILÉGIO * Nostalgia de Abril








Mais um Inverno frio nos deixava…

Mais uma Primavera prometia…

E sempre uma esperança pontilhava

de estrelas este céu que se fechava

ao rútilo esplendor dum claro dia!



E sempre esta esperança que morria

em cada frustração que nos matava!

E sempre o desespero arremetia

na força renovada que nos dava

a Fénix que das cinzas renascia!



Ai, tanto se morria e renascia!

E sempre esta esperança acalentava.

Que fértil terra de húmus e porfia

a força dava à força que faltava

nas horas em que a vida mais doía?



De sangue e desespero se amassava

o pão que noite adentro se comia!

De sol a sol, o corpo tudo dava

a troco duma jorna que minguava

enquanto o desespero mais crescia.



Ah, mas, na sombra, a noite murmurava

enleios, numa terna melodia!

E antes de adormecer, já madrugava

nos versos da canção que prometia

livre e fraterna a terra que chegava!



Chegava a Liberdade que cantava

lusíada, em feliz polifonia,

o fim do pesadelo que matava

no dia todo em luz que despertava

a vida que chorava de alegria!



O pátrio povo em armas devolvia

o berço que das trevas libertava

ao povo que sem armas acudia.

E um povo todo irmão se estremecia

no imenso e terno abraço que se dava.



Navegar é preciso, prometia,

agora que o viver se precisava!

Nos braços embalada, a pátria ouvia!

E quanto mais ouvia mais se dava

ao sonho que se ousava e florescia.





José-Augusto de Carvalho
27 de Outubro de 2014.
Viana*Évora*Portugal

domingo, 12 de outubro de 2014

14 - ESCAPARATE * «Pátria Transtagana»



Ontem, 11 de Outubro de 2014, no Salão Nobre da Junta de Freguesia de Aguiar, município de Viana do Alentejo, ocorreu o lançamento do livro «Pátria Transtagana», do qual sou autor, com prefácio do Coronel João Andrade da Silva e posfácio da Professora Maria do Céu Pires, Doutora em Filosofia pela Universidade de Évora.


Na mesa, da nossa esquerda para a direita: Rosa Barros, minha amiga e Professora de Filosofia do Ensino Secundário; Professora Doutora Maria do Céu Pires; Presidente da Junta de Freguesia de Aguiar; Coronel Andrade da Silva; e eu, José-Augusto de Carvalho.

Seguidamente, divulgo o texto da minha intervenção:


Boa tarde, Vila de Aguiar!

Boa tarde a todas as pessoas que puderam e quiseram vir assistir ao lançamento do livro «Pátria Transtagana»!

1.

Talvez eu esteja violando normas ao ser o primeiro a usar da palavra.

Evidentemente que muitas normas terão, como todos os ovos, o destino último de ser quebrados. Será este o caso? Quisera que sim.

Não é por inconsideração que me imponho na abertura desta sessão de lançamento do livro «Pátria Transtagana», mas sim porque é indispensável situar-me e situar este encontro.

Aguiar não é apenas uma das muitas localidades da Pátria Transtagana. É uma povoação que conheço desde menino. Aqui vinha com meu pai, num carro de varais, puxado por um possante muar. Mas esta razão que aduzo não poderia ser determinante para a minha preferência.

Determinante foi o convite que recebi, há meses, do Executivo da Junta de Freguesia de Aguiar para vir ler, neste mesmo salão, alguns textos dos muitos que ando escrevendo desde quase o amanhecer da minha existência de escriba impenitente, já lá vão quase setenta anos.

Portanto, Aguiar soube de mim como autor e honrou-me com um convite. Convite que aceitei agradecido.

Ora porque «Pátria Transtagana» reclamava o seu lançamento no Alentejo, como poderia eu, agora, ignorá-la ou preteri-la?

Como poderia eu não vir felicitá-la nesta data e associar à sua festa o lançamento deste meu livro?

Festa em que a vila de Aguiar comemora mais um aniversário da sua condição de Freguesia de Abril.

Eu sei que, por solicitações familiares e afectivas, outras povoações do nosso pátrio Alentejo poderiam reclamar-me o lançamento deste livro: Viana, onde eu nasci e onde nasceram muitos dos meus antepassados de apelido Carvalho; Serpa, onde nasceu minha mãe; Alcácer do Sal, onde nasceu minha avó materna Rosa de Jesus; Alvito, onde nasceram meus bisavós José António e Catarina das Dores; de novo Alvito, onde nasceu também minha bisavó Margarida.

Com excepção de meu avô materno, que desceu da transmontana Chaves buscando a sua moira encantada de sempre, a minha avó Rosa, toda a minha memória é transtagana.

2.

Quanto a mim, que poderei eu dizer?

Não tenho títulos nem cargos públicos ou privados e nem honrarias a recomendar-me.

A recomendar-me tenho apenas a minha condição de alentejano.

Também terei a recomendar-me um trajecto cívico de amor e respeito, de exaltação e defesa da Pátria Transtagana e das suas gentes, das minhas gentes.

Como vêem, nada de relevante há a dizer de mim, porque amar a nossa terra e a nossa gente é um apelo do mais recôndito de nós e não um dever ou uma qualidade racionalmente considerada.

3.

E no nosso caso de alentejanos, mais se imporá a nossa terra e a nossa gente, porque desde os recuados tempos do alvor da nacionalidade portuguesa que é a nossa, a Terra Transtagana e as suas gentes foram maltratadas, menorizadas, desprezadas, mortas ou expulsas.

Aquando da Reconquista, apeado o poder muçulmano, ninguém aqui mereceu a confiança dos reconquistadores. Ninguém!

Nada tenho contra outras gentes que queiram viver connosco nesta nossa terra e decidam ou não integrar-se no todo das nossas gentes; mas tenho tudo quando nos recusam o legítimo direito de mandarmos na nossa casa.

Urge a regionalização, única possibilidade de legitimamente, e sempre no quadro constitucional da Pátria Portuguesa, aspirarmos ao direito de escolher a nossa vida e o nosso destino.

Verdade é também que as gentes transtaganas não estão isentas de responsabilidade:

-- no passado, quando, algumas vezes tiveram voz e poder para tentarem impor-se, cederam a valores e interesses que lesaram os seus;

-- e no presente, quando, tendo voz e poder relativo para se impor, escolheram a resignação ou mal escolheram quem os represente na superior condução do seu destino colectivo.

Longe estive do nosso Alentejo; agora no nosso Alentejo estou, definitivamente, assim espero. Nunca procurei os favores dos poderes públicos e privados. Nunca os procurei e nunca os tive. E nunca os terei. E não é por teimosia, mas por opção.

E quanto a direitos, apenas tenho os direitos que a Lei Constitucional me confere.

4.

Sabem muito bem os mais velhos, como eu, o que foi viver, malviver, digo eu, sob o Estado Novo de Salazar e Marcelo Caetano.

Sabem os mais velhos, como eu, o que foi descobrir a Liberdade quando o Movimento dos Capitães nos devolveu a dignidade e a esperança numa Madrugada de Abril aureolada de cravos e de aromas de fraternidade e de paz.

Sabem os mais velhos, como eu, as dificuldades que logo surgiram, criadas pela resistência tenaz dos poderosos a quem não servia nem serve um povo adulto e livre.

Sabemos que esta terra e suas gentes lutaram desde a consolidação da independência de Portugal.

Estivemos sempre do lado certo da História e pagámos sempre o preço que nos foi exigido em bens, em sacrifícios, em sangue derramado.

No presente, resiste connosco a memória viva da Revolução dos Cravos e a vontade de transformarmos em realidade a sua promessa de finalmente haver e perdurar Abril em Portugal.

Aqui está, entre nós, um Capitão de Abril, um dos homens do Movimento das Forças Armadas que devolveu a todos nós a dignidade de mulheres e homens livres.

Um Capitão de Abril que conheceu palmo a palmo as terras transtaganas e as suas gentes.

Um capitão de Abril que nos ama e tudo arriscou por nós.

Um Capitão de Abril que está, também, nas páginas do livro que lançamos hoje.

Devemos-lhe tamanha distinção.

Bem-haja, Coronel Andrade da Silva!

E este bem-haja é extensivo aos seus camaradas de armas que nos ajudaram a entrever a esperança.

Com um segundo bem-haja relevo a Professora Maria do Céu Pires, Doutora em Filosofia, e gente da nossa gente, por ter aceitado ligar o seu nome e o seu amor ao Alentejo a este livro em lançamento.

E o meu terceiro bem-haja releva a querida Amiga Rosa Barros, professora de Filosofia do Ensino Secundário, uma filha dilecta dos Açores e já também alentejana do coração. Querida Amiga que empenhadamente me tem acompanhado neste meu percurso acidentado desde o meu regresso definitivo ao Alentejo.

5.

Na hora da gratidão, saúdo o Executivo da Junta de Freguesia de Aguiar pelo acolhimento e ao qual reitero a minha disponibilidade para colaborar em sessões culturais e cívicas, sempre que considerar oportuno e desde que para tanto eu esteja em condições de corresponder.

Nesta mesma hora da gratidão, saúdo também a gente da minha gente que está aqui e os familiares e Amigos naturais de outras regiões da Pátria Portuguesa que quiseram e puderam associar-se a este lançamento.

Finalmente, uma palavra de profundo pesar e de imperecível saudade para aqueles que partiram desta vida e exclusivamente por esse motivo não estão aqui também amparando o objectivo único deste livro: dignificar o Alentejo e por ele toda a Pátria Portuguesa.

Até sempre!

terça-feira, 30 de setembro de 2014

11 - TUPHY, SEMPRE! * Em lágrimas




Não vou nem fico, pairo sobre as águas
limosas da lagoa verde-escura…
Com lágrimas, eu lavo as minhas mágoas
quando me dói de mais a desventura…

Morri quando na barca de Caronte
partiste para o frio esquecimento.
Agora, qualquer dia que desponte
não me dará nem luz e nem alento.

Se foi imperecível o sentido
que deste ao lucilar do setestrelo
foi porque imperecível te queria…

Caronte te levou. O sem sentido
ficou imperecível pesadelo
até que o fim sufoque esta agonia…


Lisboa, 5 de Agosto de 2011.