sexta-feira, 28 de outubro de 2011

06 - O LIVRO DAS REFLEXÕES DE GABRIEL DE FOCHEM * II Reflexão



Caminho, decidido, enquanto o tempo der,
na passada medida

de quem sabe, à partida,

que terá de chegar até onde puder.
 
Desafio a borrasca.

Inclemente me alaga a chuva que derrama.

E este frio que enregela, a doer! E esta lama

que, pastosa, me atasca!
 
Mas decidido vou, enquanto o tempo der

e até onde puder!

 

José-Augusto de Carvalho

Setembro de 2001.

Setembro de 2010

Viana*Évora*Portugal

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

25 - ADIL * Adil na memória

Adil, do árabe atíl, terreno inculto.

Da antiga Viana de Fochem, depois, absurdamente, a-par-de-Alvito, e, agora, redundantemente, do Alentejo, retomamos a divulgação deste espaço, que terá a assiduidade possível.
Daqui, donde se diz que o seu povo é de muitos mouros, alguns judeus e o resto sabe-o Deus.
Adil, terreno inculto. Tal qual, porque quem pode não quer e quem quer não pode.
Terra de senhores de abastança e que já foi de pão amassado com lágrimas de desespero.
Terra que viu craveiros a florir, em Abril; e a secar, em Novembro.
Terra que espera.
José-Augusto de Carvalho

25 - ADIL * Adil


Quando descobri a importância relativa dos blogues enquanto espaço de livre e responsável afirmação de quanto pretendemos comunicar, criei o blogue ADIL. Hoje, ponderando o intento, concluí pela impossibilidade da sua existência autónoma. Decido, por isso, transformá-lo em uma das partes constitutivas deste outro espaço.

Subordinado a esta etiqueta --- ADIL, começarei por transcrever o pouco já anteriormente publicado.
Assim me definia, então, enquanto alentejano no meu pátrio Alentejo. Assim continuarei...

Dórdio Gomes, Pintor alentejano


Rasgando as estradas,

à luz da evasão,

esmago no chão

um tempo de nadas.



José-Augusto de Carvalho
Lisboa, Dezembro de 2009

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

07 - CANTARES * Moda do poço



Neste poço há uma nora
de alcatruzes de saudade,
onde ainda o tempo chora
o candor de Xerazade...



A princesa muçulmana
sobrevive enfeitiçada
nestas terras de Viana,
numa nora abandonada...

Numa nora abandonada,
nestas terras de Viana,
sobrevive enfeitiçada
a princesa muçulmana...



É quando o vento suão
até à sombra assa canas,
que dói mais a solidão
nas terras alentejanas.



Versos José-Augusto de Carvalho

Talvez projecto, exactamente por ser uma pretensão lançada assim desamparada, é a tentativa de apresentar textos inéditos que poderão enriquecer (?) o património dos cantares populares do Alentejo. Que valha a intenção.



domingo, 23 de outubro de 2011

07 - CANTARES * A minha história



Já estava no meu posto
quando o dia mal rompia…
E, o patrão, a contragosto,
ao sol-pôr, findava o dia…

Para além de água e de pão,
tive sede e tive fome,
que também se bebe e come
quer Justiça, quer Razão…

De Justiça e de Razão,
que também se bebe e come,
tive sede e tive fome
que não só de água e de pão…

Engelhado de cansaço,
hoje, sou esta memória…
Se na vida apenas passo,
que não passe a minha história…


Versos de José-Augusto de Carvalho

Talvez projecto, exactamente por ser uma pretensão lançada assim desamparada, é a tentativa de apresentar textos inéditos que poderão enriquecer (?) o património dos cantares populares do Alentejo. Que valha a intenção.



07 - CANTARES * Horas de solidão



Na torre batem as horas.
Nem viv'alma pelas ruas.
Amor, por que te demoras
e esta saudade acentuas?

No meu peito, dói a espera.
Um nó me aperta a garganta.
Não pode haver primavera
se o passarinho não canta.

Se o passarinho não canta,
não pode haver primavera.
Um nó me aperta a garganta.
No meu peito, dói a espera.




Nos campos não há trigais...
E sem trigo não há pão!
Meu amor, não tardes mais,
que morro de solidão!


 

Música de Maria Luísa Serpa

Versos de José-Augusto de Carvalho


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

05 - ESTA LIRA DE MIM!... * As sombras sortílegas


No caminho, assentou a canseira.
Nem vestígios das tuas pegadas.
Solitárias, as velhas estradas
sob um manto de sol e poeira.

Do que foste ou não foste, não mais
a memória guardou o registo.
Neste Mundo de Cristo sem Cristo,
são de inércia e renúncia os sinais.

Sob a noite, as estradas paradas,
rememoram silêncios em guarda
e sortílegas sombras vadias...

São as horas, no tempo cansadas,
a velar a promessa que tarda
duma aurora que nunca verias...


José-Augusto de Carvalho
16 de Outubro de 2011.
Viana*Évora*Portugal

03 - CAIXA POSTAL * 6ª. carta

Exmos. Leitores:

Desde há vários anos, escolhi o título «O Alentejo não tem sombra!...»  para um conjunto de textos a que chamei cantares. Recentemente fui surpreendido com a informação de que este título já foi utilizado. Perante a situação, a colectânea já preparada terá este outro título: Harpejos de Alma (Cantares).

Os meus cumprimentos.