segunda-feira, 30 de novembro de 2009

14 - ESCAPARATE * «Do mar e de nós»

No lançamento do livro «Do Mar e de Nós»
Lisboa, Casa do Alentejo, 27 de Junho de 2009.


Se lançar este meu livro nesta muito amada cidade de Lisboa já é um privilégio, duplo privilégio é estar sob estes tectos da Casa do Alentejo, marco incontornável da presença alentejana na capital do país.
Bem-hajas, Lisboa, minha amada cidade de acolhimento!
Bem-hajas, Casa do Alentejo, presença física do meu Alentejo pátrio!
Estas são as minhas primeiras palavras, naturalmente de sentida gratidão.Também estas outras de agradecimento são para os poetas e editores Xavier Zarco e Paulo Afonso Ramos, por terem acreditado na edição de «Do Mar e de Nós». Bem-hajam, Companheiros!
Neste livro, editado sob a chancela de Temas Originais, e, agora, apresentado pelo poeta Xavier Zarco, há a nostalgia do mar e dos nossos antepassados, que, intrepidamente, quiseram, puderam e souberam projectar a Pátria para muito além dos limites estreitos, geograficamente definidos nesta faixa ocidental da Ibéria.
Desses homens grandes, nossos antepassados, disse Camões, lapidarmente, que da inexorável Lei da Morte se libertaram. E muito justamente, porque foram eles que ergueram uma Pátria que ganhou o respeito e a admiração do Mundo. E, como poucos, cumpriram-se como homens. Raramente os mereceram os governantes da época. E, menos ainda, os cortesãos, que, nos corredores do Paço, alimentando-se de sinecuras e de ócio, sempre se entretiveram com intrigas e invejas, anunciando a «apagada e vil tristeza» de que Camões também amarguradamente nos fala.
A esses governantes e validos remonta a mediocridade cinzenta e mesquinha que haveria de perdurar por séculos, para desgraça da Pátria e desgosto de quem tudo deu por ela.
As viúvas e os órfãos, com as suas lágrimas, mais salgaram ainda o salgado mar.
Os avisados Velhos do Restelo não foram ouvidos, mas nem os excessos nem os erros poderão empequenecer a glória de que muito nos orgulhamos.
Não há saudosismo em quanto digo, apenas, sim, há o desgosto de não mais termos conseguido fazer por merecer tamanha grandeza. E aqui me socorro de Fernando Pessoa que, na sua «Mensagem», apela a que busquemos, hoje, de novo, a distância. E cito de cor: «Do mar ou outra, mas que seja nossa!»
E se a conquista de uma outra distância, hoje, poderá ser um objectivo de realização deveras problemática, um outro, de mais exíguas proporções será o de contribuirmos para a possível preservação da presença pátria nos quatro cantos mundo, obtida que seja a devida autorização das autoridades governamentais dos países onde ainda nos perpetuamos.
Admito que sejam escassos os nossos recursos financeiros, mas não o serão os recursos humanos. Há muitos portugueses aposentados que de bom grado rumariam a essas paragens e se ocupariam, quase sem custos acrescidos, do muito que há a fazer. Assim as autoridades pátrias o reclamem.
Como aposentado, digo: presente! E sei que não estou sozinho!
Finalizando: Não sei como será recebido este livro. Até poderá ser entendido como um malamanhado ramalhete de versos. Que seja! Não busco louros nem nunca enverguei a jactância de me considerar um talento das Letras pátrias.
Com este livro apenas cumpro um dever de gratidão. E esta minha atitude terá de ser respeitada. É pouco o que dou? Talvez seja pouco, muito pouco, mas dei o que pude. E se mais não dei foi porque não pude mais. Ou dizendo de outra maneira, e parafraseando Camões: Se mais pudera, mais dera!
José-Augusto de Carvalho



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14 - ESCAPARATE * «O meu cancioneiro»


No lançamento do livro
«O meu cancioneiro»

Cine-Teatro de Viana
19 de Setembro de 2009.
Foto de Joaquim Filipe Bacalas



Boa noite!
É um privilégio estar neste Cine-Teatro, que vi erguer na já distante década de quarenta do século XX.
Aqui me traz a solidária manifestação de apoio do Município à edição do livro «O meu cancioneiro».
A este gesto de solidariedade se associaram a Escola E.B. 2,3/S. Dr. Isidoro de Sousa, a CulArtes, a Oficina da Criança e todos os presentes para assinalarem o lançamento de um modesto livro de poemas que a «Temas Originais» editou e o Professor António João Valério e a Poetisa Conceição Paulino se predispuseram muito amavelmente a apresentar.
Às entidades aqui representadas, aos editores, aos apresentadores do livro e a todos os presentes aqui publicamente manifesto a minha gratidão.
Quanto ao livro, ele aqui está, disponível. Dos seus méritos e deméritos, o Juízo do Tempo decidirá, sempre com verdade, como convém. E a determinação de escrevê-lo estará justificada na pequena introdução que também redigi.
Como reiteradamente tenho afirmado, nada de relevante há a dizer de mim. Desempenhei, o melhor que pude e soube, a minha profissão.
Paralelamente, sempre escrevendo alguns versos, numa persistência que prossegue, agora, na situação de aposentado. Ontem como hoje, persigo a Poesia. Sei que é um esforço titânico, pois ela, a Poesia, se me apresenta como o horizonte — sempre à minha frente, mas nunca ao meu alcance. Que fique o esforço, já que o objectivo é demasiado!
Sem exibicionismo, apenas animado pelo espírito de uma cidadania interventora, escrevi dois textos expressamente para este momento, nas músicas tão conhecidas de “O sole mio” e “Torna a Surriento”, duas canções napolitanas mundialmente apreciadas.
Estes textos relevam a visão da sociedade que percebi na adolescência, que amadureci na idade adulta, que me acalenta na fase derradeira da vida, sempre com a mesma esperança de que, um dia, o ser humano saberá ser digno de si mesmo, num abraço fraternal do tamanho do mundo.
Até sempre!
Bem-hajam!

José-Augusto de Carvalho
Viana, 19/9/2009
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10.05 - OS MEUS AMIGOS * Silas Corrêa Leite

OUTONAIS
(poemetos)

01)O feto, o que diria
Se pudesse falar?
(Prometo nunca mais Amar!)

02)As etiquetas
Denunciam
O defeito de fabricação
É de quem veste a roupa

03)Eu te escrevo, Vida
Como um louco escriba
Delata a própria sobrevivência
Em carne viva

04)Itararé não existe
É a mais pura ilusão
Palco iluminado alegre & triste
Na cor púrpura do meu coração

05)Era tão mal falada
Que só tinha uma saída
Ir morar lá na Índia
Para então ser sagrada

06)Rio-me de mim
Quando me vi, verme

07)As goteiras
São estrelas
Que, por sê-las
Esqueceram de usar rímel

08)No dia que vim-me embora
Meu pai não cabia em si
E minha mãe chorava, chorava e chorava
Enxugando as lágrimas numa avental sujo
De pimenta cumari


Silas Corrêa Leite
Estado de São Paulo, Brasil


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10.05 - OS MEUS AMIGOS * Silas Corrêa Leite

Quem é Silas Corrêa Leite?

Silas Corrêa Leite é autor de um vasto material ainda inédito, de romances a trabalhos sobre a Prática Educacional Vivenciada, poesia para jovens, coletânea de contos de realismo fantástico e outros. Ele conta, com a eloquência que lhe é peculiar, que pensa em traduzir seus trabalhos e tentar lançá-los no exterior, como fez com sucesso Ignácio de Loyola Brandão.Mas, sua versatilidade não pára por aí:
” Componho rocks, alas & blues, tenho pesquisas sobre Ética e Cidadania da Comunidade Carente e trabalhos para o público infanto-juvenil”.
Silas é membro da UBE-União Brasileira de Escritores.“Sou uma espécie de ” plantador de sonhos”, um “inventor do inexistente”, eterno aprendiz da alma humana, sonhando um neosocialismo de resultados.
” Escrevo para não ficar louco, ou melhor, para livrar-me do que crio, feito um “Sentidor”, para citar Clarice Lispector. A poesia que produzo é a oxigenação da minha alma”, ele diz. Ele se define como ” um Rimbaud pós-moderno (antena da época) que não acredita em sonho que não seja libertação, e registra para o futuro esses tempos tenebrosos de primatas globalizando a miséria absoluta e a violência sem fronteira, num país continental de muito ouro e pouco pão. Acredito, também, que só a mulher pode mudar o mundo. Como nem sempre elas captam funcionalmente isso, prefiro escrever meu despojo insano para dar meu testemunho nessa difícil lição da viagem de Existir”.
Silas colabora com diversos Suplementos Culturais, jornais, revistas e tablóides, com artigos, resenhas críticas, poemas, microcontos, trabalhos sobre “teens”, Educação, Política, Terceira Idade, Ética e outros temas.
Dentro do Mapa Cultural Paulista (Secretaria de Estado de Governo), foi escolhido por dois anos, representando Itararé, como um dos dez melhores contistas do Estado São Paulo.

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10.00 - OS MEUS AMIGOS * Nota introdutória

O saudoso escritor Manuel da Fonseca, no seu livro «seara de vento», coloca na boca da personagem Amanda Carrusca esta sábia sentença: Um homem sozinho não vale nada.
Não querendo ser um homem sozinho, aqui homenageio a presença de quem se predipôs a honrar-me e a honrar este espaço com a sua presença.
Espero e muito desejo que os visitantes deste blogue apreciem os meus Amigos nos textos que deles publico, pretendendo eu, com estas publicações, testemunhar-lhes a minha gratidão por concordarem em enriquecer este espaço.
Até sempre!
José-Augusto de Carvalho
Viana de Fochem*Évora*Portugal

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05 - ESTA LIRA DE MIM!... * O Fado



Cumprida a rotação,
marcava mais um dia o calendário.
E sempre este fadário
de versos na tristeza da canção.

É noite, agora? Ou dia? Quem o sabe?
Dolentes guitarradas
gemem desesperadas
no tempo do silêncio que lhes cabe.

A voz se solta rouca e chora o canto
fatal do sofrimento,
enquanto o xaile negro, em negro manto,
enluta o desespero do lamento.

E assim, no desencontro da existência,
monótona se cumpre a rotação,
sofrida no fadário da cadência
que marca o calendário da canção.



 José-Augusto de Carvalho
6 de Março de 2009.
Viana de Fochem * Évora * Portugal
Quadro «O Fado», do pintor José Malhoa*José Vital Branco Malhoa(Caldas da Rainha, 28 de Abril de 1855 – Figueiró dos Vinhos, 26 de Outubro de 1933),Pintor, desenhista e professor português.

05- ESTA LIRA DE MIM!... * Cantilena


Sempre no meu peito,
aroma da flor,
meu amor-perfeito,
meu perfeito amor.

E sempre, na cor,
o perfeito encanto
da graça da flor
que encantado canto!

Nesta condição
de querer-te tanto,
quero ser o chão
onde, em mim, te planto!

Medra no meu chão,
minha flor de encanto,
e o meu coração
envolve em teu manto!

E quando eu me for,
que ainda em meu peito,
vicejes, em flor,
meu amor-perfeito!

 


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José-Augusto de Carvalho
26 de Março de 2009
Viana de Fochem*Évora*Portugal

domingo, 29 de novembro de 2009

12- GABRIEL VIVE! * Panorama



Cultivo tantos eus no sacro chão de mim!
E, tantos, são um só, em êxtases dispersos…
Farpelas de burel ou mantos de cetim,
são peregrinos de alma os ecos dos meus versos.

A ventania açoita os caules indefesos…
Regela, em agressões, o tempo de invernia…
Meus ombros, de cansaço exaustos, sob os pesos
que escurecendo vão promessas de áureo dia…

O tempo da colheita é tempo sazonado.
Semente germinada, ousada na raiz,
incerto, o caule tenro em haste transformado,
abraça, sem pudor, as ervas dos adis.

No topo, assoma, verde e tímido, o botão…
Cumprido o ciclo, a flor perfumará meu chão?


José-Augusto de Carvalho
7 de agosto de 2004
Viana do Alentejo * Évora * Portugal
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12- GABRIEL VIVE! * Perspectiva




Às vezes sinto que a palavra apouca
o tanto que queria fosse dito…
É quando o desespero me abre a boca
e tudo se liberta num só grito.



Um grito que ressoa além de mim,
e vindo das angústias ancestrais,
abarca, do princípio até ao fim,
anseios tão de menos, tão de mais…



Não quero ser de mais, nem ser de menos.
Apenas eu, aqui, no tempo certo.
Saber que sermos grandes ou pequenos
é porque estamos mais ou menos perto.



É sempre a perspectiva do meu grito
que tolhe o que calei, o que foi dito…






José-Augusto de Carvalho


10 de maio de 2005.

Viana * Évora * Portugal
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12- GABRIEL VIVE! * Assombração



As muralhas e a torre
de menagem…
O passado percorre,
assombrado, a paisagem…

Que relógio parado
este tempo lacera?
Que caminho assombrado
só esta angústia gera?

Que mentira projecta
o teu verbo no mito?
Que assombrado poeta,
sem asas de infinito,
fica olhando as estrelas
sem saber merecê-las?

 

José-Augusto de Carvalho
8 de Outubro de 1998.
Viana do Alentejo*Évora*Portugal
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12- GABRIEL VIVE! * Provação



Espaço e tempo, a dor e a sujeição
de ser, aqui e agora, em provação.

Espaço em si, limite que me tolhe,
angústia circular que me entontece,
um tempo onde o sem tempo se recolhe
e o sol não ilumina nem aquece.

Em derredor, as sombras são difusas.
E a noite veste luto carregado.
No povoado, as ruas são escusas;
e o uivo dos rafeiros, prolongado.


Caminho sem destino. As azinhagas,
rasgando os campos ermos, em pousio…
A fome e a sede, purulentas chagas…
Doendo o sem sentido, em desafio…


José-Augusto de Carvalho
14 de Julho de 1998.
Viana * Évora * Portugal


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12- GABRIEL VIVE! * In memoriam



De sol a sol, a doer,
tudo dei ao pátrio chão,
para depois mal haver
a miséria por quinhão.


Vivi tempos proibidos.
Na prisão, a Liberdade.
A fome dos ofendidos
era de pão e verdade.


O assombro, a cada esquina,
fustigava, delator.
Os protestos, em surdina,
sufocados de amargor.


A tirania pesava.
E uma angústia tão doída
só a custo soletrava
uma promessa de vida!


O verbo era clandestino.
E, sobre a noite cerrada,
erguia a luz dum destino,
numa promessa jurada.


Falava de paz, na guerra…
De justiça, na opressão…
E da terra, nossa terra,
toda um milagre de pão!


Pão por todos repartido,
conforme a necessidade.
Conquistado e merecido
no suor da dignidade.





José-Augusto de Carvalho

27 de Fevereiro de 2000.
Viana * Évora * Portugal
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12- GABRIEL VIVE! * Aparição



Nevado de anos, roxo de amargura,
do tempo sem memória me levanto.
Os séculos de treva e de clausura
de fel enrouqueceram o meu canto.

Sangrenta a crença, bárbaro o costume,
sofri as vergastadas do martírio.
Sem culpa nem perdão, em dor e lume,
morri perante as turbas em delírio.

Restou de mim tão pouco, um quase nada,
que vem gritar, do pó do esquecimento,
que a cinza do meu corpo dói, gelada,
à míngua do fulgor do pensamento.

Ampara-me o carinho que me chama
e lava a negação da minha lama.


José-Augusto de Carvalho
11 de Março de 2004.
Viana do Alentejo*Évora*Portugal
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12 - GABRIEL VIVE! * O relógio parado



Um relógio parado
assinala
o sem tempo obstinado.
Um sem tempo que fala
duma espera,
no silêncio pesado
duma angústia severa.


Vai-se o dia,
vem a noite
e nenhuma ousadia
que perturbe ou açoite
o silêncio pesado
que macera,
nesta espera,
o sem tempo obstinado.



José-Augusto de Carvalho

27 de Outubro de 2005.
Viana do Alentejo*Évora*Portugal


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12 - GABRIEL VIVE! * Protesto

Desenho de José Dias Coelho


Protesto
contra as nuvens avaras
que negam às searas
a promessa da água…

Protesto
contra as terras incultas
onde jazem ocultas
as raízes da mágoa…

Protesto
contra o pão da desgraça
a sorrir a quem passa
oníricos festins…

Protesto
contra o céu nas alturas,
contra a terra às escuras,
contra todos os cains…



José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 8 de Maio de 1997.

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12 - GABRIEL VIVE! * Fantasmagoria



Escravo da gleba no domínio de Fochem,

vagueia no nevoeiro do tempo,

assombrando as consciências

dos arautos da mentira e da infâmia…



José-Augusto de Carvalho
Viana*Évora*Portugal
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11 - TUPHY, SEMPRE! * A notícia



Minh’alma está ferida. A morte ronda perto.
Os homens firmam longe o curso de outros rios.
Nas horas da tragédia, erguida em calafrios,
a força noticia o mundo em tempo incerto.

Que sonhos de luar? Irrompem desvarios.
As portas do inferno assombram o deserto.
Os gumes dos punhais desfiam desafios…
Os homens já não são o Prometeu liberto.

No mundo, pereceu o sonho da criança.
Miragens de Aladim. As lendas da magia.
O tempo do sem tempo é a Mesopotâmia.

Os ídolos de antanho, em aras de matança,
exigem sangue, numa orgia de agonia…
Os homens já não são. Que carnaval de infâmia!



José-Augusto de Carvalho
Viana do Alentejo * Évora * Portugal
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11 - TUPHY, SEMPRE! * Alquimia




Das cinzas do passado me levanta
quem sabe em mim o sonho e o paradigma.
Da minha terra, que é três vezes santa,
eu trouxe e nele sou instante enigma.

Eu fui e nele sou al Andalus,
o nome que então demos às Espanhas.
Al Andalus de plainos e montanhas,
de um céu que o sol doura ardendo em luz.

Eu fui e nele sou a fantasia
das mil e uma noites, de Aladim,
de génios e poetas e magia.

Eu fui e nele sou; e ele é em mim.
Se dois, nós somos um, numa alquimia
que a lei revoga do princípio e fim.


José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 26 de Novembro de 2007.

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11 - TUPHY, SEMPRE! * Para Sherazade



O grito que ressoa acorda o sonho antigo.
As crinas dos corcéis ondulam anelantes.
Nas dunas do deserto em fogo onde me abrigo,
Os teus apelos de alma e coração distantes.

No tempo e no lugar, as sedes de outras fontes.
Em ti, o lago pleno, ocaso de afluentes.
Depois de ti, não pode haver mais horizontes.
Que mais, além de ti, se tudo em ti consentes!...

Escondes, sob o véu, os lábios purpurinos.
Sedentos de áurea lava, em tragos de ambrosia.
Prometes, no teu ventre, anseios levantinos.

Gemidos de luar de cálida estesia!
Teu grito, no meu grito, o grito definido...
Aurora recusando o tempo interrompido!


José-Augusto de Carvalho
Porto Alegre, 31.10.2002
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11 - TUPHY, SEMPRE! * A flor da fantasia



Em terras do Alentejo, há muito emurcheceu,
no sonho de Aladim, a flor da fantasia.
Sem noites de luar, o canto emudeceu
e um manto de tristeza o nada silencia.

O sol é um incêndio, um caos de idolatria,
que o tempo-amar-e-ser há muito corrompeu…
Em terras do Alentejo, há muito emurcheceu,
no sonho de Aladim, a flor da fantasia.

Ai, que assombrada voz meu sono escureceu!
Que pesadelo em mim só me anoitece o dia…
O dia que eu queria e nunca amanheceu!
Saudade do que fui! A flor da fantasia,
em terras do Alentejo, há muito emurcheceu…


José-Augusto e Carvalho
Viana*Évora*Portugal
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11 - TUPHY, SEMPRE! * O sonho de Tuphy



Na limpidez do céu, um infinito azul
envolve, no seu manto, a terra abandonada.
Assombros de passado acenam mais a sul…
Areias de ouro e sol de uma magia alada…

A voz de Sherazade enfeitiçando ainda
as noites de luar, em fios de alva renda…
Há cânticos de amor, num sonho que não finda…
Seu corpo, belo e nu, enleia a minha tenda…

A dádiva da vida, em sôfregos carinhos,
enlaça-me num todo anelos de pureza
e sinto crepitar o fogo em nossas veias…

As rotas do deserto, os múltiplos caminhos
que cruzo milenar em busca da riqueza
dos astros de outro céu que emerge das areias…


José-Augusto de Carvalho
Viana do Alentejo * Évora * Portugal
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13 - FANTASMAS DA MEMÓRIA * Vem ver o meu país de marinheiros!...

Nasci e vivi a meninice e a adolescência em Viana do Alentejo, uma vila de três mil habitantes, sede de município, ao qual pertencem as vilas de Alcáçovas e Aguiar. Como dizia uma canção muito em voga nesse tempo, situando as populações das povoações rurais de Portugal, aqui todos são primos e primas. Pois é, naquele tempo, o mundo era pequeno!
O Poder Político da época afirmava: Portugal é um País Rural !
Quem conhecesse minimamente a geografia física do país sabia que o Poder Político mentia. O país arrastava-se numa agricultura de subsistência, resignado. Recordo-me de que uns anos depois do final da II Grande Guerra, cerca de 1950, um quilograma de trigo colhido em Portugal era vendido ao público por três escudos e sessenta centavos e que se dizia que o Canadá colocaria trigo em Portugal por quarenta centavos cada quilograma.
Para situar os preços que indico, esclareço que um dólar equivalia a mais ou menos vinte e cinco escudos.
É fácil concluir que não havia interesse do Poder Político em libertar o País da miséria, do analfabetismo, da palavra de ordem do fascismo imperante: Tudo pela Nação/ Nada contra a Nação! Um pouco mais tarde, no início da década de sessenta, quando os povos das ex-colónias se decidiram pela sua emancipação, recorrendo à luta armada, o Poder Político enfrentou o mundo hostil (leia-se também ONU) com estoutra palavra de ordem: Estamos orgulhosamente sós!
Nesta mesma época, um incidente ensombrou as relações diplomáticas com o Brasil. Era presidente Jânio Quadros. O transatlântico português Santa Maria foi tomado e o chefe da rebelião, o Capitão Henrique Galvão, alterou o nome do navio para Santa Liberdade e ordenou ao comandante que rumasse à costa americana. Após negociações, esta acção, destinada a alertar o mundo, terminou com o Santa Maria aportando ao Recife. Os insurrectos ficaram no Brasil; o Santa Maria regressou a Portugal, são e salvo, como é adequado dizer-se nestas circunstâncias.
Na esmagadora maioria das povoações, havia apenas o ensino primário elementar, correspondente a quatro anos de escolaridade. O patamar de ensino imediato eram as Escolas Comerciais e Industriais e o Liceu. Apenas as capitais de Distrito dispunham deste ensino. Havia ensino privado, mas quem poderia pagar? Havia três Universidades: Lisboa, Porto e Coimbra.
Enfim, e socorrendo-me de Luís Vaz de Camões, aqui fica uma pálida ideia do que era a ditosa pátria, minha amada!


José-Augusto de Carvalho
4 de Junho de 2006.
Viana do Alentejo*Évora*Portugal

sábado, 28 de novembro de 2009

14 - ESCAPARATE * Agradecimento

Com natural satisfação, publicamente agradeço ao Senhor Jorge Castelo Branco a edição do livro «Da humana condição».

A edium editores tem o prazer de anunciar o lançamento previsto para Março da obra poética intitulada “Da Humana Condição” do poeta alentejano José-Augusto de Carvalho. O autor, com seis obras já publicadas, apresenta-nos este título revertido e inspirado da obra de André Malraux “A Condição Humana”; José-Augusto de Carvalho recupera os paradigmas da evolução humana, e discorre sobre a moralidade, a política, o conflito, num registo quase sempre na 1.ª pessoa, um incarnado resistente, desagrilhoadas as correntes que se soltam em palavras que se ordenam em destinos.
Xavier Zarco, na nota breve de abertura, sublinha a propósito: “José-Augusto de Carvalho apresenta-nos, em todo o seu esplendor, a humana condição, que quantas vezes fazemos de conta não ver, mas que existe e invade, enquanto jantamos e lançamos comentários que, amanhã, poucos deles restarão na nossa memória, porque a vida é feita no desespero de cumprir a hora, exagerando, ou talvez não, de cumprir o segundo.Este tomo não deve, não pode passar indiferente. É Poesia no seu esplendor porque habita ao nosso lado e não devemos, não podemos manter o olhar cerrado. Isto, claro, se desejarmos, de facto, um mundo melhor. Se não for para nós, que seja para aqueles que nós gerámos”.
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14 - ESCAPARATE * «Da humana condição»


O lançamento deste livro ocorreu em 29 de Março de 2008: 
Alvito, na Biblioteca Municipal, de tarde; 
Viana, no Salão Nobre da Junta de Freguesia, à noite.

14 - ESCAPARATE * «Do mar e de nós»


O lançamento deste livro ocorreu na tarde do dia 27 de Junho de 2009, em Lisboa, na Casa do Alentejo.

14- ESCAPARATE * «O meu cancioneiro»



O lançamento deste livro ocorreu na noite de 19 de Setembro de 2009, no Cine-Teatro de Viana do Alentejo.

15 - CONTROVÉRSIA * Para meditar



 «(…) pero como dijo Dios,


cruzándose de piernas:

veo que he creado muchos poetas

pero no mucha poesía.»


Charles Bukowski

15 - CONTROVÉRSIA * Parábola intemporal

Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um pirilampo. Ele fugia com medo da feroz predadora, mas a cobra não desistia. Um dia, já sem forças, o pirilampo parou e disse à cobra:

— Posso fazer três perguntas?
— Podes. Não costumo abrir esse precedente, mas já que te vou comer, podes perguntar.
— Pertenço à tua cadeia alimentar?
— Não.
— Fiz-te algum mal?
— Não.
— Então porque é que me queres comer?
— Porque não suporto ver-te brilhar!



E é assim …. que, diariamente, tropeçamos com cobras.

Nota: Não conheço o autor do texto acima, mas ele não se importará, quero crer, que registe aqui a sua criatividade.
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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

10.06 - OS MEUS AMIGOS * José Arrabal

A POESIA DO SÉCULO XX AO XXI

Qual será a Poesia possível para o século XXI, época flagrantemente sinalizada pelo desenvolvimento tecnológico, por profundas diferenças sociais e pelo pesadelo da violência cotidiana?
Que metáforas e sentimentos por palavras, em poemas e versos, podemos imaginar para o decorrer dos próximos cem anos?
Há mesmo algum lugar para a Poesia num tempo tão controverso?
E de que Poesia carece o homem, neste início de século?
Longe de quaisquer pretensões proféticas, o que se pode esperar é que muito provavelmente a Poesia irá de novo surpreender a história da literatura. Otimismo sugerido pelo que aconteceu no século XX, sem dúvida, um período de grandes poetas, ainda que as ocorrências históricas não tenham se mostrado tão poéticas.
A bem da verdade, todo o circo de horrores do Novecentos foi incapaz de impedir que o homem vivesse uma época tão rica para a Poesia.
Com certeza, embora nos dias de hoje se tome a Poesia como uma espécie de filha rejeitada do mundo das Letras, jamais ela esteve presente de modo tão realçado, na história da inteligência humana, como nos últimos cem anos. Jamais sua herança para o futuro foi tão vasta e influente.
Desde o seu início, o século que passou marca-se por esperanças e expressões incisivas da Poesia.
Aliás, já é com a Poesia que nas últimas décadas do século XIX se reivindica uma nova Literatura para os anos do Novecentos.
Instigado por essa preocupação é que o jovem poeta francês Arthur Rimbaud escreve ao futuro: “Il faut être absolutement moderne!” [“É preciso ser absolutamente moderno!”]

A PRESENÇA DAS VANGUARDAS

Modernidade que, nas primeiras décadas do século XX, as vanguardas literárias irão reivindicar dos escritores, sempre através da Poesia. Pois será com a Poesia que os futuristas, dadaístas, construtivistas, suprematistas, vorticistas, formalistas, cubistas e surrealistas irão exigir uma nova arquitetura mental, um ato renovador de energia e vontade para as Artes.
Modernidade guiada, seja pela regência do italiano Marinetti, ao pedir a presença da velocidade e da energia mecânica na Poesia. Seja pela voz forte do poeta russo Vladimir Maiakovski, ao formalizar que não há revolução na Poesia, assim como nas ruas, sem forma artística revolucionária:

“Nesta vida
morrer não é difícil.
O difícil
é a vida e seu ofício.”


Século XX em que se pretende – como determina e realiza o anglo-americano Ezra Pound - que o poeta, “antena da raça”, seja um gerador de cultura ao se revoltar contra a cultura, um estudioso universal, um artista versado em Homero e Catulo, em Dante e nos trovadores provençais, um conhecedor da importância do ideograma chinês e da centralidade da forma curta da poesia japonesa, o haicai. Enfim, um poeta senhor da tradição, que, ao se expressar e construir a transgressão, destrua o museu morto do passado à procura da poesia do futuro.
De resto, uma época de poéticas da liberdade, quando o poeta, portador de suas utopias para a Poesia, ao escrever tem no horizonte o que não quer, além do mar de suas possibilidades. Postura que, em resumo, bem definiu o brasileiro Manuel Bandeira: “Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.”
Utopias com que se constrói a Poesia do século XX, ainda que seja um século mais trágico do que lírico, precisamente conforme sintetizou de modo magistral outro brasileiro, Carlos Drummond de Andrade:

“…………………………………………………………..
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra”


Realidade que a poesia do século XX percebeu e enfrentou.
Assim testemunha T.S. Eliot, em seu vasto poema “A Terra Desolada”.
Século trágico que nem por isso esmoreceu seus poetas cientes da necessidade da lírica, de “Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada”, no dizer da poesia do chileno Pablo Neruda.
Afirmação da vida, que os poetas do século não ignoraram, como responde por todos um outro brasileiro, João Cabral de Melo Neto: “…não há melhor resposta/que o espetáculo da vida:/ vê-la desfiar seu fio,/que também se chama vida…”


TEMPO DE VERSO E REVERSO

Sem dúvida, é vasta a presença da Poesia do Novecentos como legado para o século XXI. Vasta e renovadora, sempre nos mais importantes ou nos mínimos instantes dos sentimentos humanos; nos gestos mais amplos ou mais particulares da existência.
Quem por acaso, nesses últimos cem anos, ousou passar a vida sem ao menos compor ou desejar compor um só verso de amor para a pessoa amada? O que também a grande Poesia do século tantas vezes fez, como testemunha vital de desesperadas paixões.
Vigoroso exemplo dessa lírica passional é o poema do andaluz Federico Garcia Lorca onde ele expressa sua dor e a dor de toda a Espanha num apaixonado lamento pela a morte em plena arena do jovem toureiro Ignácio Sánchez Mejías, “a las cinco de la tarde” : “Eu canto sem tardança teu perfil e tua graça”.
Assim se inscrevem, como expressões de plena grandeza na vasta biblioteca poética do século XX, múltiplos feitios, praticamente todos os temas, desde a leveza da poesia bucólica à consistência do poema social; desde a multiplicidade do verso metafísico à visibilidade da poesia de exaltação heróica; a exatidão do meta-poema à rapidez do poema mítico. Como, igualmente, se inscrevem investigações poéticas de diversos sentimentos étnicos que aproximam visões de mundo e mesclam o Ocidente com o Oriente no Poesia. E, não menos, se inscrevem meticulosas investigações lingüísticas.
No âmbito das possibilidades das formas poéticas, tudo se fez e tudo se refez e tudo se transformou, nos últimos cem anos. Mais que em todas as outras épocas da História da Literatura, a poesia dos Novecentos, além de investigar vastamente os significados das emoções, revigorou os significantes verbais, os traços e os sons do verbo, desde os caligramas de Guillaume Appolinaire às experiências concretistas, por sinal marcantes na poesia brasileira.
Certos poetas chegaram a multiplicar suas particularidades estilísticas.
Outros escreveram em vários idiomas. E de tal modo ocorreu essa pluralidade que, num balanço final, muito provavelmente o maior dos poetas do Novecentos talvez seja aquele que, na obscuridade de um quase ineditismo em vida, foi poeta por si mesmo e por vários outros poetas que tomou como heterônimos. Sem dúvida, Fernando Pessoa!
Autor(es) da língua portuguesa que com significativa presença foi igualmente grande poeta em inglês: “A verdade se ela existe,/Ver-se-á que só consiste/Na procura da verdade,/Porque a vida é só metade.”
Honrosa situação que confirma o Português como idioma de boa valia poética, justificando, inclusive, a existência de excelentes poetas brasileiros nos últimos cem anos, alguns, sem dúvida, entre os melhores do mundo.
E foram muitos os grande poetas dos últimos cem anos. Tantos que a Academia Nobel, se algumas vezes esqueceu de consagrar certos nomes da poesia mundial, não hesitou em incluir, entre os seus escritores premiados, vários poetas brilhantes tais como Rabindranath Tagore, William Butler Yates, Gabriela Mistral, T. S. Eliot, Boris Pasternak, Saint-John Perse, Nelly Sachs, Pablo Neruda, Odysseus Elytis, Wole Soyinka, Joseph Brodsky, Derek Walcott e Wislawa Szymborska. Por sinal, vale lembrar que a lista do Nobel de Literatura inicia-se em 1901 com um poeta, o francês Sully Prudhomme.


VASTAS INFLUÊNCIAS

No século XX, não menos vasta é a influência da Poesia nos outros gêneros literários. A começar pela própria prosa de ficção do Novecentos, que, sem dúvida, seria expressivamente menos significativa, caso não importasse para suas páginas, passagens, tramas e enredos, situações verbais evidentemente poéticas.
Os arranjos sonoros, as inquietações léxicas, as reconstruções lingüísticas dos contos e romances contemporâneos são devedores de modelos e técnicas do verso. Não fosse assim, jamais teríamos na bibliografia do século obras tais como “Finnegans Wake", de James Joyce, ou “Grande Sertão:Veredas”, do brasileiro Guimarães Rosa.
O mesmo se pode dizer a respeito da dívida da dramaturgia para com a poesia. Não fosse um expressivo poeta da língua alemã, Bertolt Brecht nunca teria sido um grande dramaturgo. Influências que chegaram ao cinema, como se percebe nos diálogos e nas tramas de Bergman, Fellini, Pasolini ou Glauber Rocha, entre outros cineastas.Marcas que vitalizaram a música popular do século, como se vê de imediato, em meio à longa lista de exemplos, nas letras dos Beatles, de Jim Morrison, ou do pleno poeta brasileiro Chico Buarque de Holanda.
Influências que alcançaram os discursos do jornalismo e da publicidade contemporâneos. E até mesmo inspiram com evidência certos feitios expressivos das melhores histórias em quadrinhos e de alguns "sites" da Web.
Sem dúvida, é amplo o legado da Poesia do século XX. Todo um legítimo conjunto de obras que exige muito dos poetas deste século XXI que se inicia agora, intrigados por saber que poética precisa o futuro.
Enigma que, segundo Jorge Luís Borges, talvez encontre resposta numa retomada da poesia épica, às vezes um tanto ausente nos últimos cem anos, se comparada à presença da lírica.
- Tivemos duas guerras mundiais, porém, delas não surgiu nenhuma épica! – reclamava o grande poeta argentino.
- De certo modo, as pessoas estão famintas de épica. Sinto que é uma das coisas que precisamos.
Quem sabe!?
Uma poesia menos subjetiva, que reconstrua os fatos e nos conte histórias da odisséia do Homem na estrada do século XXI.


José Arrabal
São Paulo – SP,Brasil

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