Rio Guadiana, o pulo do lobo
Malteses
(Memórias de antanho)
Uma mancha de arvoredo.
Treme o caminho de medo.
Um grito de raiva corta
o silêncio do montado.
Quem, na noite, mal suporta
o seu sossego assombrado?
Numa janela da aldeia,
tremeluz uma candeia.
Que sombra furtiva passa,
tragada p'la escuridão?
No silêncio de mordaça
pesa mais a solidão.
Andam malteses a monte
nas terras sem horizonte...
Soam secos estalidos
de facas de ponta e mola
e uns ténues ruídos
de passos que a lama atola...
Andam malteses a monte
nas terras sem horizonte...
Homens de pele trigueira,
curtida pelo relento,
aventuras de fronteira
e mulheres de momento...
Cicatrizes purpurinas
das balas das carabinas...
Nos beijos livres da noite,
bem ajustado o bornal,
há quem na sombra se acoite
maltês ou guarda fiscal!
O medo o medo guardando,
liberdade e contrabando...
Malteses matando a fome,
altivos como senhores!
Quem sois vós, homens sem nome,
temidos p'los lavradores?
Quem impõe a lei da fome,
muitas insónias consome!...
Quem vem lá, entre dois guardas,
a caminho da cadeia,
indefeso entre espingardas
que a lei da fome alardeia?
Um maltês acabrunhado
maldiz o dia azarado!...
Caiu um numa emboscada...
Outros em paz intranquila,
de noite, rondam a vila,
p'ra soltar o camarada...
Uma mancha de arvoredo...
Treme o caminho de medo!...
José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 5 de Setembro de 1996.
Viana, 8 de Dezembro de 2010
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