sexta-feira, 17 de junho de 2011

29 -CRÓNICAS * O Largo


Crónica de um dia sem história

O Largo
 

Hoje, desci ao Largo. Sim, também eu tenho um Largo. Não é, seguramente, o Largo de que o Manuel (da Fonseca) nos fala e que era o centro do mundo. Este meu, mais modesto, é, apenas, o centro do meu povoado.

Neste meu Largo, está sempre um homem olhando em frente. Alheado das árvores que o circundam, olha em frente. Fixamente. Tentará, porventura, desvendar as novas e os mandados que virão.

Fica indiferente às conversas que escuta, tal como à chuva que o molha, ao frio e ao calor que já não poderão incomodá-lo.

Um ou outro, mais velho, fala dele como de um passado morto. Interiormente, sorri. O passado não morreu. O passado é a raiz, as fases diversas sobre que assenta o presente. O presente à espera do futuro. O passado é ontem; o presente é hoje; o futuro é amanhã.

Do passado nos chega a sentença: quem boa cama fizer, nela se há-de deitar.

Como dizia, desci ao Largo. Hoje. Hoje deveria ser um dia especial, deveria ser mas não é. Mais exactamente, não vi que fosse.
 
Em derredor do homem sempre presente, havia diversas pessoas, cavaqueando. Também um carro de som, tentando animar o ambiente com banalidades adventiciamente desportivas.

Senti-me defraudado. De dia especial, nada vi. Regressei a casa. Olhei a estante onde arrumo alguns livros. Lá estavam Os Lusíadas. Melancolicamente, recordei: Esta é a ditosa pátria, minha amada!
 
Pois...

Até sempre!

 Gabriel de Fochem

Alentejo, 10 de Junho de 2011.


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José-Augusto de Carvalho