...Para o Poeta
Para Décio Pignatari
“Estão todas as verdades/À espera de
todas as coisas(...)
Eu acredito que torrões de barro/Podem vir a ser
lâmpadas/
E amantes” – Walth Whitman (Leaves of
Grass)
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Para
o Poeta...
O sol se põe numa caixa de fósforos antiga
O arroz-doce feito
com losangos de chocolate com menta é manjar dos deuses
Cerveja é rica em
amizades boêmicas com muita fibra de suporte existencial
Os horizontes estão
cheios de historias em quadrinhos em preto e branco
E as auroras são
barbantes cor de rosa-pitanga dos deuses amando rebentos
crepusculares...
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Para o Poeta...
Amar é céu e inferno; viver é
livro como um uivo e morrer é orgânico
Crianças mesmo são envelopes de luz à
espera de serem preenchidas por nódoas e tintas, vagidos e frutas
Velhos são
sábios como tamarindeiros carregados de rubis fantasmas
Poemas são
esparadrapos colados em cicatrizes íntimas de percursos inexatos pelas
sofrências
Músicas são solos de silêncio para quem precisa de regra e lição,
não de desenhos abstratos em humanismo de resultados...
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Para o
Poeta...
A terra é um marmitex de Deus para o projeto trágico da vida,
evitando ser rotina a viagem de existir na incompletude da pobre alma
avelã
Para o Poeta...
Escrever é livre como um rio. As margens,
correntezas e atoleiros, dependem das interpretações de quem se lê por suas
próprias pegadas, promessas, luzes ou cavernas íntimas...
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Para o
Poeta...
Nem tudo que reluz é fêmea, nem tudo que reluz é luz
E se a vida
não lhe der limões, faz limonada de lágrimas de crocodilo...
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Para o
Poeta...
O céu é o silencial, muito além daquele turvo infinital de garrafa
pet
Quando um anjo maldito grita “Quem enlouquece sempre alcança”
E um eco
sinistro retruca: “Deus ajuda quem cedo se insurge...”
Todos os nossos
endereços podem ser passageiros
Porque nada é para sempre – nada existe para
ser para sempre aqui e agora – nem uma vida só é pouco
Pois na casa do pai
noiteadeiro há muitas geladas...
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Para o Poeta...
A alma dos
lazarentos é feita de lápis de cor
A solidão é a melhor amiga do carrasco
notívago
Como o travesseiro de nódulos de isopor é o único refugio para o
remorso de um guerreiro noia inseguro
Com sua colcha de retalhos cheinha de
estrelas de sangue
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Para o Poeta...
O impossível é escada para o porão, ou
para o sótão. O difícil é aprendizado de renuncias com rivotril e comital, pois
o fígado faz mal pro álcool
E o trabalho é uma pobre terapia que depois vira
neura contemporânea de grosso calibre, feito um revolver quente
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Para
o Poeta...
Ser louco é uma forma de não se esconder na mesmice de tantas
errações desvairadas
Mas fazer da inércia um belo sagu de groselha preta
artificial made in china
E acreditar que a fé remove
religiões...
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Por fim, para o Poeta
A vida telúrica é apenas um
gomo da cruz adâmica, da maçã podre da espécie, do papiros secretos feito de
casca de laranja, e do espírito atribulado que ferra o ente sensível...
E o
inferno e o céu em nós, pobres mortais na manada
Somos nós que fazemos – na
vida o final feliz é que todos morrem –vivendo e sofrendo, morrendo e
aprendendo
E escrevendo bulbos de desespelhos, como se voando com
remos
Assim na terra como no céu...
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Cyber Poeta Silas
Correa Leite
Santa Itararé das Artes-SP/Brasil
E-mail:
poesilas@terra.com.br
WWW.portas-lapsos.zip.net