quarta-feira, 30 de novembro de 2011

32 - DO MAR E DE NÓS - II * O velho lenho



Do vento que enfunou as níveas velas

das velhas caravelas de quinhentos,

só resta o Fado, triste, nas vielas,

vestido de saudade e de lamentos.



Poetas loucos há, de Norte a Sul,

buscando, no sabor da maresia,

com Sá-Carneiro, um pouco mais de azul,

no céu da decadência amarga e fria.



Na minha voz ecoam outras vozes,

as vozes que eu herdei e que mantenho,

perenes de manhãs de apoteoses.



Memória do que foi o velho lenho,

nas asas haverá dos albatrozes

ou vivo no palor de algum desenho...



 
José-Augusto de Carvalho
13 de Janeiro de 2007
Viana do Alentejo * Évora / Portugal

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

05 - ESTA LIRA DE MIM!... * Percurso

Maio maduro - Foto Internet - autor desconhecido




Da colheita de Maio Maduro,

Quanto baste de alento e de alvura.

Mitigar minha sede procuro

Na cisterna de chuva água pura.



Na farinha e na chuva que amasso,

Minha fome modela o sustento.

É da Terra e do Céu este abraço

Onde crio o que sou no que faço.



Tudo em mim é a soma do todo,

Que é de pó e que é de água – este lodo,

Num pedaço de céu que me acena…



E assim vou, perseguindo este rastro

Que lucila a saudade de um astro,

Nesta cósmica angústia terrena…



José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 13 de Dezembro de 2010.